"Este país não é para corruptos!
Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer!
Portugal é um país em salmoura. Ora aqui está um lindo decassílabo que só por distracção dos nossos poetas não integra
um soneto que cante o nosso país como ele merece. "Vós sois o sal da terra", disse Jesus dos pregadores. Na altura de
Cristo não era ainda conhecido o efeito do sal na hipertensão, e portanto foi com o sal que o Messias comparou os
pregadores quando quis dizer que eles impediam a corrupção. Se há 2 mil anos os médicos soubessem o que sabem
hoje, talvez Jesus tivesse dito que os pregadores eram a arca frigorífica da terra, ou a pasteurização da terra. Mas, por
muito que hoje lamentemos que a palavra "pasteurização" não conste do Novo Testamento, a referência ao sal como
obstáculo à corrupção é, para os portugueses do ano 2010, muito mais feliz. E isto porque, como já deixei dito atrás
com alguma elevação estilística, Portugal é um país em salmoura: aqui não entra a corrupção - e a verdade é que
andamos todos hipertensos.
Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa.
O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe
fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao
pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta
corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido
para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente;
ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de
irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for
administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre
título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa
isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber
fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o
tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção
que se apresente." "
Ricardo Araujo Pereira
In Visao.pt
29 Abril 2010
Sera que so o povinho percebe o que se passa com este pais? Nao estaremos nos a precisar de fazer outra revolucao? E que se e para continuar assim, prefiro uma Anarquia, pelo menos sabia quem mandava e seria so um a comer!